Olhei para as árvores na margem. Bromélias brotavam nos troncos encharcados pela água. Os passarinhos, um pouco mais acima, pareciam fazer a festa com a chegada da luz do sol. A névoa da manhã cobria todo o leito do rio. Minha mão tocava a água fria que me escorria por entre os dedos com o movimento da embarcação. A vegetação submersa apresentava pequenas flores que pareciam estrelinhas brancas e se emaranhavam por entre as raízes das plantas flutuantes… seriam elas flores-estrelas? Um pequeno inseto vermelho tateava as folhas do labirinto de plantas que ocupavam o leito do rio. O cheiro do motor de popa entrava por entre as minhas narinas e se misturava com o de peixe. Desliguei o motor e com um remo manobrei suavemente o barco para mais próximo da margem. Aquele inseto vermelho desapareceu rapidamente por entre a folhagem.
Com a ajuda de uma cumbuca, molhei minha nuca procurando me refrescar do sol que já “estalava” mais intensamente. A correnteza fazia com que plantas flutuantes, troncos de árvores e, infelizmente, algumas garrafas pet passassem rapidamente por mim. Depois de meia hora, já era possível ver as raízes das árvores do manguezal à mostra. As bromélias estavam mais distantes e os passarinhos voavam muito mais ao longe. As plantas flutuantes que se seguravam nas submersas próximas à margem descolavam-se pouco a pouco seguindo o leito do rio. Agora a água parecia mais quente; era como se aquela camada mais gelada tivesse descido o rio para outro lugar. Dos barrancos da margem, a argila escorria para dentro do rio. Uma pequena praia de areia branca surgia um pouco mais adiante. Encostei meu barco ali e meus pés afundaram cerca de 20 centímetros na areia. Na minha canela era possível ver o movimento de pequenos peixinhos e girinos.
No rio tudo é movimento e sem esse vai e vem das águas a vida não acontece. As bromélias não brotariam nos troncos das árvores, os insetos não tateariam as folhas das plantas flutuantes procurando um lugar para colocarem seus ovos. As pequenas flores-estrelas não brilhariam no leito do rio servindo de abrigo para pequenos animais. A água gelada não escorreria por entre meus dedos me refrescando do calor. Eu não encontraria os peixinhos e girinos fazendo uma verdadeira festa próximo a margem do rio. Ali, no rio, toda a vida, inclusive a minha, dependia do movimento das águas. Da margem, tomei certa distância do leito do rio e saltei, mergulhando, deixando-me levar pela correnteza.