A fotografia foi feita em janeiro de 2016. A Avenida Beira-Rio estava tomada pelas águas do rio Piracicaba. Fiz a imagem de dentro de um barco que navegava pela rua. Como veremos, o Projeto Beira-Rio tinha como um de seus principais objetivos livrar o rio de sua condição de barranco. Com o movimento das águas, quando o rio desborda de suas margens, não é possível ver os barrancos, eles ficam submersos.
No ano 2000 foi elaborada uma Agenda 21 local que incluiu em suas metas a elaboração de um plano de “requalificação” da orla do rio Piracicaba.
Agenda 21 é um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. A Agenda 21 brasileira é um instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento sustentável do país, resultado de uma vasta consulta à população. Foi coordenado pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 (CPDS), construído a partir das diretrizes da Agenda 21 global e entregue à sociedade, por fim, em 2002. A Agenda 21 local é o processo de planejamento participativo de um determinado território que envolve a implantação, ali, de um Fórum de Agenda 21. Composto por governo e sociedade civil, o Fórum é responsável pela construção de um plano local de desenvolvimento sustentável, que estrutura as prioridades locais por meio de projetos e ações de curto, médio e longo prazos. No Fórum são também definidos os meios de implementação e as responsabilidades do governo e dos demais setores da sociedade local na implementação, acompanhamento e revisão desses projetos e ações” (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, s/d.). Em Piracicaba a Agenda 21 Local foi elaborada por uma ONG batizada de “Piracicaba 2010.
O Projeto Beira-Rio foi a principal ação da prefeitura de Piracicaba para a “requalificação” da Rua do Porto. Entre 2001 e 2012, as margens do rio Piracicaba que estão localizadas na área central da cidade foram o palco do projeto “Beira-Rio”:
A ideia do Projeto Beira-Rio surge desta constatação – rio e a cidade [de Piracicaba] formam um sistema biocultural uno e generalizado, no qual o desenvolvimento da cidade passa pelo desenvolvimento de sua relação com o rio. O planejamento desta relação é fundamental para a construção de uma cidade sustentável, calcada na indissociabilidade entre evolução econômica, preservação dos recursos e inserção social (Ipplap, s/d).
O projeto foi realizado em duas fases. A primeira, reservada para o estudo, foi dividida em três etapas: “Diagnóstico: a cara de Piracicaba”, “Plano de ação estruturador” e “Descrição dos trabalhos técnicos”. Nessa primeira fase o projeto contou com profissionais de diferentes áreas: antropologia, arquitetura e urbanismo, história, engenharia. O processo de diagnóstico teve a coordenação do antropólogo Arlindo Stefani, que realizou encontros, seminários, percursos e viagens a pé e de barco por toda a orla da cidade. Ao final dessa etapa foi elaborado um relatório denominado “A cara de Piracicaba”. Segundo o relatório do projeto, esse diagnóstico apontou a necessidade do restabelecimento da margem do rio como espaço público,
livrando-a da condição de “barranco” imposta pelo padrão predatório de urbanização predominante no Brasil ao longo do século passado. Também a prevalência do percurso a pé no espaço da cidade, equilibrando a relação dos meios de transporte motorizados com o “cidadão mais frágil” – o pedestre. Seu pano de fundo é a sustentabilidade entre homem, cultura e meio, princípio seguido na etapa seguinte de elaboração de um plano de ação para o município (Ipplap, s/d).
A elaboração do Plano de Ação Estruturador (PAE) foi a segunda etapa do projeto. Esse plano teve a intenção de fornecer subsídios conceituais para o desenvolvimento de diretrizes para políticas públicas no território municipal. A segunda fase do projeto também foi dividida em três etapas: “Requalificação da Rua do Porto”, “Trecho Largo dos Pescadores” e “Trecho Ponte Pênsil / Museu da Água”. A primeira etapa, “Requalificação da Rua do Porto”, contou com um plano de adequação ambiental e paisagística da orla urbana do rio realizado pela Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo. A segunda etapa compreendeu a Avenida Beira-Rio, no trecho entre o Calçadão da Rua do Porto e a Rua São José. A terceira etapa, inscrita no trecho entre a rua São José e a Ponte do Mirante, foi concluída no segundo semestre de 2012.